Sabe quando eu falo que a Globo não tem noção nenhuma do monstro social que ela pariu e as pessoas acham que ela sabe sim o que está fazendo?
Hoje o Santos derrotou o Vasco por 3 x 0, com várias falhas do goleiro cruzmaltino Sidão. Internautas decidiram trollar a votação do "craque do jogo" e votaram em massa no Sidão como o melhor jogador em campo, sabendo que o vencedor dessa enquete receberia um troféu no fim da partida. O que vimos então foi um dos momentos mais patéticos do jornalismo esportivo no mundo. Uma repórter constrangida entregando um troféu a um jogador que havia falhado várias vezes no jogo, mas ainda assim também um profissional, perplexo com a situação. Pessoas presentes dizem que os dois estavam se segurando para não chorar. E não teve um cristão ali no meio para perceber que aquilo não era normal e tomar uma atitude para interromper o procedimento cuja finalidade foi manipulada na origem.
Essa é a mesma lógica que certa parte da população tem seguido desde 2016, ao acreditar que "as instituições estão funcionando" enquanto não é o seu lado do barco que está fazendo água. É óbvio que a Globo não tinha interesse em proporcionar o espetáculo de humilhação pública do Sidão para milhões de telespectadores. Mas também é evidente que hoje a parcela da população que um dia ela tanto manipulou também já mostrou que não há limites pro seu sadismo e que pode muito bem manipular a própria omissão conivente da Globo a seu favor. O manifestoche também pode querer ter seu próprio fantoche.
Pulitzer preveniu, há mais de 100 anos: "Com o tempo, uma imprensa cínica, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma." Mas talvez, com tantos anos de coberturas jornalísticas ininterruptas e desprovidas de ética e repletas de falácias e meias verdades, todo o oligopólio midiático brasileiro tenha criado algo muito pior que ele próprio jamais sonhou em ser. Não se brinca com o fascismo impunemente.
Guilherme Cunha
