Aos 17
anos todo mundo é poeta, junto com as espinhas da cara, todo mundo faz poesia.
Homem, mulher, todo mundo têm seu caderninho lá dentro da gaveta, e têm os seus
versinhos que depois ele joga fora ou guarda como mera curiosidade. Ser poeta
aos 17 anos é fácil, eu quero ver alguém continuar acreditando em poesia aos 22
anos, aos 25 anos, aos 28 anos, aos 32 anos, aos 35 anos, aos 40 anos, eu estou
com 41, aos 45 anos, aos 50, aos 60 anos, até você encontrar um poeta, por
exemplo, como Drummond ou como o admirável Mário Quintana que são poetas que
estão fazendo poesia há mais de 60 anos e há mais de 60 anos que a poesia é o
assunto deles. Então eu acho que 90%, mais! 99% dos poetas que estão fazendo
poesia hoje, daqui a dez anos eles vão estar fazendo outra coisa, porque vem a
vida, vem os filhos, vem preocupações com dinheiro, vem as ambições do consumo,
vem a necessidade de comprar isso, comprar aquilo, de adquirir uma casa na
praia e tal, e tudo começa a se tornar mais importante do que a poesia. A
poesia é uma espécie de heroísmo, você continuar ao longo dos anos acreditando
nessa coisa inútil que é a pura beleza da linguagem, que é a poesia, é um
heroísmo, é uma modalidade quase, às vezes eu gostaria de acreditar, de
santidade. É uma espécie de santidade da linguagem. Porque a poesia não vai te
fazer rico de jeito nenhum, é muito mais fácil você abrir uma banquinha e
vender banana do que fazer poesia. Quer dizer, para você continuar acreditando
em poesia é preciso muita santidade.
Paulo Leminski em Ervilha da Fantasia