Na falta de outra coisa para dizer, os odiadores do PT, de Lula, da Dilma e da esquerda em geral, desde ontem, berram aos quatro ventos coisas como:
(1) E aí? Cadê a Globo golpista? (Porque quem revelou as delações foi "O Globo")
(2) E aí? Quem disse que a Lava Jato só existe para pegar o PT (Porque acham que essa história tem a ver com a Lava Jato)
(3) E aí? Delação agora vale, quando é contra o PT não vale? (Porque enxergam semelhanças entre o falatório dos delatores da Lava Jato e as gravações do cara da JBS)
(4) E aí? Gravar a Dilma não podia, mas gravação do Temer vale? (Porque confundem um grampo irregular com um sujeito que grava uma conversa para se defender/incriminar alguém que lhe oferece risco)
Vamos lá.
1.
Lauro Jardim, o jornalista que revelou o conteúdo das gravações, não investigou nada, não descobriu nada. Essa história já vinha sendo tocada pelo MPF do DF, que acionou a PF para investigar. O resultado da investigação seria tornado público de qualquer forma, assim que chegasse ao STF para sua homologação. Repito: não era uma investigação de "O Globo". Quem daria a notícia primeiro era algo irrelevante. Calhou de ser o Lauro Jardim, porque ou caiu no colo dele, ou porque ele tem boas fontes entre os envolvidos na investigação -- mérito dele, claro. Mas sua publicação não significa que "O Globo" mergulhou no caso porque faz um jornalismo investigativo, centrado no interesse do leitor e do país. Não foi "O Globo" que desconfiou na JBS e de suas relações com Temer, e saiu a campo para apurar algo. Os fatos revelados não são fruto da "imparcialidade" das Organizações Globo. Os fatos revelados são fruto de uma investigação do MPF.
2.
A Lava Jato não tem nada a ver com essas denúncias. O núcleo da PF e do MPF que tocou essa investigação não é o de Curitiba. O fato de o processo ter caído na mesa de Fachin, que também é relator dos processos da Lava Jato, é apenas uma coincidência. A Lava Jato segue sendo, sim, uma operação desastrada conduzida por um juiz despreparado que se dedica há três anos, sim, a incriminar o PT e os governos petistas. Os "efeitos colaterais" são, por exemplo, prisões e acusações a políticos de outros partidos, como Cunha. Aliás, desde o início da Lava Jato o que se vê é um fracasso retumbante do jornalismo investigativo brasileiro. Ninguém descobriu nada, ninguém foi atrás de nada. Tudo que foi/é publicado é fruto de vazamentos dos procuradores e do pavãozinho de Curitiba, que decidem o que querem que seja publicado e os jornalistas publicam feito cordeirinhos. Moro jamais incriminaria Aécio. Já deu mostras disso em vários interrogatórios. É famosa sua frase "não vem ao caso", num interrogatório qualquer, quando alguém citou gente do PSDB.
3.
Traçar paralelos entre as delações dos investigados na Lava Jato, como os empreiteiros e ex-diretores da Petrobras, e essa delação do dono da JBS é uma desonestidade. Todos que acusam Lula & cia. na Lava Jato, até agora, não conseguiram apresentar uma prova sequer contra o ex-presidente. Um deles disse que Lula mandou destruir as provas (!) e por isso, infelizmente, não poderia apresentá-las. A marqueteira que quer salvar o rabo inventou um rascunho de e-mail sem data, remetente ou destinatário. Os indícios sobre o tal triplex são risíveis: contrato sem assinatura, duas visitas a um apartamento, acusações vazias sem uma única prova concreta -- aliás, ainda tento entender onde está o crime em se interessar por um apartamento na praia. No caso do dono da JBS, há: gravações, filmagens, malas de dinheiro rastreadas com chips, fotos da entrega da grana, locais, horários, nomes, sobrenomes. Provas tão concretas e contundentes que um dia depois de a denúncia chegar ao STF os envolvidos estão sendo presos, processados, afastados de seus cargos e os inquéritos estão sendo imediatamente abertos. Tudo que a Lava Jato não faz, porque se dedica a produzir gráficos ridículos de PowerPoint e adota a máxima "não temos provas, mas convicções", o MPF e a PF, no caso da JBS, fizeram: investigaram, produziram provas, incriminaram os criminosos.
4.
Moro grampeou uma presidenta da República ilegalmente, e divulgou as conversas igualmente de forma ilegal. Foi uma ilegalidade autorizada por um juiz. Grampo de uma presidenta em exercício. Bem diferente, completamente diferente, de um sujeito esconder um microfone no bolso para se defender de uma situação da qual se sente vítima, para provar à PF aquilo que contou. Joesley informou à PF que iria gravar a conversa que possivelmente incriminaria Temer e foi autorizado a fazê-lo. Não foi a PF que grampeou ilegalmente o telefone ou a casa do presidente da República. O empresário, em sua delação, acusou Temer de participar de ilegalidades. Foi lá, gravou e provou aquilo que delatou.
Portanto, bonitinhos e bonitinhas, poupem-nos -- e por "nós" entendam aqueles que sempre apontaram para o caráter golpista do impeachment, para as ilegalidades da Lava Jato e para a escrotice da ex-imprensa -- desse discursinho bobo sobre não ter "bandido de estimação", "eu quero que peguem todo mundo", "corrupto tem mais é que ir pra cadeia, mesmo".
Graças às suas panelas e camisetas da CBF, à sua raiva do PT, de Lula, de Dilma, às suas loas ao deus mercado, à infalibilidade da iniciativa privada, ao discurso de ódio contra políticas sociais, bolsas, auxílios aos mais pobres e tudo mais que um governo popular representa, uma presidenta eleita por mais de 54 milhões de pessoas foi arrancada do poder injusta e ilegalmente, um governo legítimo foi bruscamente interrompido, e foi com seu apoio, bonitinho e bonitinha, que criminosos sabotaram o país, paralisaram a economia voluntariamente um dia depois de Dilma derrotar Aécio, organizaram o caos.
Vamos pagar por vossa burrice e ignorância por algumas gerações.
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