Queridas pessoas da imprensa,
Eu sei. Não fiz faculdade de jornalismo. Talvez eu esteja falando bobagem. Sou apenas uma roteirista. Eu escrevo ficção. Umas coisas que saem da minha cabecinha e que vivem e existem só numa representação. Mas como parte do nosso material de trabalho é o mesmo, a língua portuguesa, gostaria de falar sobre o uso da palavra "polêmica".
Polêmica é uma uma situação de debates e controvérsia. Nas redes sociais praticamente tudo gera muitos debates e controvérsia e polarização - mesmo assuntos que, pelo bom senso, pelo sentimento de humanidade sequer deveriam ter a denominação de polêmica. A defesa da pedofilia, por exemplo.
Tolstoi era um escritor russo maneirinho. Ele pensava que deveríamos, como defesa da nossa humanidade, chamar as coisas pelo nome delas. Sou super do time dele.
Então queridas pessoas da imprensa, eu gostaria de ajudar vocês a entender coisas que não são polêmica para que vocês possam encontrar o nome correto para elas.
- Ataques misóginos contra Lola Aronovich não são polêmica. Chama-se crime.
- Os ataques contra a atriz Tais Araújo não se chamam polêmica. O nome que se dá é racismo.
- Geraldo Alckmin fechar escolas e mandar a tropa de choque para cima de adolescentes que as ocupam não gera polêmica. Gera violência do estado contra cidadãos exercendo seu livre direito de se manifestar.
- Namorado enforcar a namorada não é polêmica. É assassinato e femicídio.
- Quando homens atacam e debocham da hashtag primeiro assédio isso não é polêmica. É machismo.
- Quando um secretário de estado espanca a esposa repetidas vezes e o seu governador sai em sua defesa, o nome disso não é polêmica. É canalhice. Se vocês não puderem usar a palavra canalhice, citem a lei maria na penha.
- O que aconteceu em Mariana com o derrame de lama tóxica destruindo vidas e o meio ambiente não gerou nenhuma polêmica também. Gerou mortes por conduta irresponsável. E gerou também uma desconfiança irreversível no que vocês escrevem.
O uso da palavra polêmica nesses casos só mostra o não posicionamento diante de questões difíceis e dolorosas. Não se posicionar significa estar do lado do agressor. E o uso desse eufemismo contemporâneo vazio e babaca não vai salvar vocês da mediocridade. E nem dos passaralhos, que fique claro.
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