Mesmo ganhando a
Copa América, seleção
de Mano continuará
burra, se não mudar
Entenda melhor isso. Veja por que a Seleção precisa mudar urgentemente sua forma de jogar, para evitar novo vexame na Copa de 2014. Saiba por que nem dirigentes, técnicos, jogadores e muito menos nossa mídia esportiva conseguem sacar o que realmente está rolando.
Dedicado a Sócrates, meu ídolo no futebol, mas que lamentavelmente continua não dominando essa questão. Em seu texto “Caminhos Escorregadios” (edição número 654 de 13 de julho de 2011 da revista CartaCapital), Sócrates deixa claro que o problema --- do ponto de vista técnico --- estaria na escalação errada, quando na verdade está na forma como a Seleção joga.
Por Tom Capri
A vitória sobre o Equador, por 4 a 2, só mostrou que a Seleção apenas melhorou com a entrada de Maicon e a volta de Robinho. Mas está claro, pelo menos para quem entende de futebol, que o time armado por Mano Menezes, mesmo que venha a ganhar a Copa América, continuará burro, se não mudar sua forma de jogar. E naufragará na Copa de 2014 se insistir nela. O que realmente está pegando? É o sistema-escadinha que fez escola no País (Zagallo, Parreira, Dunga etc.) e, por já ter nascido obsoleto e ultrapassado, continua desde então afundando o futebol brasileiro, como está muito claro nesta Copa América. Isto precisa mudar já.
O que é o sistema-escadinha? (Me perdoe se estou sendo repetitivo, caro leitor, mas sou obrigado: quem mais deveria entender isto --- Mano, CBF, dirigentes, técnicos, jogadores e mídia especializada --- aiiiiiiinda não entendeu, vou ter de repetir aqui mais uma vez para esclarecer em definitivo essa questão). Sistema-escadinha é esse que estamos vendo na seleção de Mano: o time joga de forma escalonada, dividido em escalões (degraus) que são verdadeiros grotões, ou seja, um degrau joga tão distante do outro que a coisa acaba não funcionando, para alegria de adversários bem mais frágeis como Bolívia e Equador. A burrice do “sistema” de Mano está justamente aí. Nenhum time sério atua hoje assim, isto é praticado só no futebol brasileiro.
A Seleção de Mano joga dividida em três escalões/grotões (degraus) que se isolam em campo e não compõem: defesa, meio-campo e ataque. A bola tem de ir de degrau em degrau até chegar àquele que vai finalizar. Atuando assim, com esses três grotões/degraus, os jogadores precisam centuplicar o esforço e trabalhar até com horas extras para fazer a bola passar de um escalão/grotão ao outro (da defesa ao meio-campo ou do meio-campo ao ataque, por exemplo). A canseira é tamanha e as dificuldades de tal ordem que dá até pena dos jogadores, porque eles acabam sendo condenados. Além de extenuante e de culpar injustamente o jogador, o sistema-escadinha não funciona.
Só bobinhos não percebem que a equipe fica em total desequilíbrio quando joga assim e que é muito fácil parar um time desses. Basta brecar um dos escalões (principalmente, o da defesa), fazendo a parede na pressão ali, para impedir que a bola chegue aos demais, e, pronto, lá se vai a Seleção para o beleléu, como temos visto há mais de nove anos, principalmente agora na Copa América. Só bobinhos não sacaram ainda que é mais fácil marcar e roubar a bola de um escalão do que do time inteiro, ou seja, é mais difícil roubar a bola daquele time que joga compactado, em que todos defendem, armam e atacam, sem escalões (degraus).
O FUTEBOL MODERNO EXIGE O JOGADOR FAZ-TUDO, AQUELE COMPLETO E VERSÁTIL QUE SABE DESARMAR, ARMAR E FINALIZAR (ATÉ O GOLEIRO! --- VIDE ROGÉRIO CENI). EXIGE TAMBÉM QUE TODOS COMPONHAM O SISTEMA DEFENSIVO, PRINCIPALMENTE O CENTROAVANTE, QUE NEM JOGA MAIS COMO CENTROAVANTE CLÁSSICO, "ENFIADO" COMO O ÚLTIMO ROMÁRIO, DAÍ NÃO FAZER TANTOS GOLS. HOJE, UM DOS PRINCIPAIS PAPÉIS DO CENTROAVANTE É MARCAR SOB PRESSÃO O ADVERSÁRIO NA SAÍDA DE BOLA (FAZER A PAREDE ALI), ROUBAR A BOLA NA INTERMEDIÁRIA, FAZER BEM O PIVÔ, ALÉM DE ESTAR PRESENTE NA HORA CERTA PARA FINALIZAR COM PRECISÃO, POR ISSO PRECISA SER JOVEM E TER MUITO FÔLEGO. FOI COM ESSE FUTEBOL MODERNO QUE O BARCELONA GANHOU O TÍTULO EUROPEU E O SANTOS FOI TRI NA LIBERTADORES (JOGANDO COM ZÉ LOVE LÁ NA FRENTE E NÃO COM UM PATO).
No jogo contra o Equador, isto ficou muito claro. Nosso grotão da defesa só conta, a rigor, com três jogadores: o goleiro (Júlio César) e a dupla de zaga (Lúcio e Thiago Silva), uma vez que os laterais jogam como ala, avançando intempestivamente e, às vezes, ao mesmo tempo. Como a bola sai dos pés dos três do grotão/defesa, basta marcar o Brasil sob pressão na saída de bola para conseguir anulá-los e, com isso, toda a Seleção. Fácil, né? Ora, nenhuma equipe séria joga hoje por “setores” (grotões). O futebol moderno evita especialistas que só exercem uma ou duas funções. Todos precisam compor, formando um verdadeiro “team” (falo do futebol solidário, o único hoje que dá margem para que o futebol-arte possa aparecer).
Se o time adversário põe três para marcar os nossos três do grotão/defesa, lá se vai por água abaixo toda a eficácia do futebol da Seleção Brasileira. Mesmo que a bola por acaso passe do primeiro grotão (defesa) para o segundo (meio-campo), já chegará “ruim” o suficiente lá na frente para que chegue ainda pior ao terceiro grotão (o do ataque, o escalão que finaliza). Jogando assim, nem mesmo com onze dos 30 melhores do mundo, como tem o Brasil, dá para apresentar bom futebol.
Foi exatamente o que vimos, por exemplo, contra o Equador. A bola sai do primeiro grotão (o da defesa) e já chega “meio ruim” ao segundo grotão (o do meio-campo). E, “meio ruim” assim, a bola vai ainda pior do meio-campo para o último grotão (o do ataque), e aí é aqueeeela dificuldade para finalizar (Robinho e Pato batendo cabeça na área adversária e um estresse danado no ataque brasileiro para chegar ao gol). Isto porque, sem grotões, o time adversário defende-se com onze (vide o Equador), ao contrário do Brasil, e só se for mesmo muuuuuito ruim não impõe dificuldades à Seleção.
E o espetáculo grotesco não termina aí. Quando o adversário contra-ataca, só encontra geralmente três defensores pela frente (o goleiro Júlio César e a dupla de zaga com Lúcio e Thiago Silva), ou seja, encontra um time extremamente vulnerável em que quase todos atacam sem critérios e poucos defendem. Aí, fica fácil fazer gol no Brasil. E o que ouvimos da mídia especializada, na sua leitura rasa e superficial, é que Júlio César tomou até frango que não podia tomar, Lúcio e Thiago Silva não foram bem, alas como Daniel Alves e André Santos pareciam principiantes, e por aí vai, como se a culpa fosse dos jogadores. Não sobrou um que não ouviu críticas, entre os convocados que já jogaram.
Na verdade, ninguém joga direito num time desses, nem mesmo se tiver onze Pelés. Nos três primeiros jogos da Seleção, foi o que ouvimos da mídia esportiva. Ninguém do grotão/defesa está bem (“Júlio César não é mais aquele”, diz a mídia). Ninguém do grotão/meio-campo e armação está bem (“Ganso não tem jogado nada”, diz também a mídia). E ninguém do grotão/ataque está bem (“Pato nunca foi craque, não se pode exigir isto dele, e Robinho têm sérios problemas de pontaria”, continua a mídia). A culpa recai sempre sobre as individualidades que, vale repetir, são as melhores do mundo, mas “desaprenderam a jogar”, insinua nossa crônica esportiva.
Só as arrancadas perigosas de Maicon e a incomparável habilidade do jogador brasileiro, ainda o melhor do mundo, repito, foram capazes de superar essa enorme deficiência da Seleção (o seu futebol-escadinha), e ainda assim contra o Equador, o time mais fraco da fraca chave em que caíra o Brasil. Sinopse do velho filme: lamentavelmente, a Seleção conta com os melhores jogadores do mundo, mas não com a inteligência para fazê-los jogar de forma decente, só dessa forma burra à la Mano (e que, sempre é bom repetir, vem da escola de Zagallo, Parreira e, mais recentemente, Dunga). A Seleção precisa de um técnico sério, competente e atualizado. Como não temos um assim, a solução é chamar alguém de fora para a Copa de 2014.
Do lado do Equador --- um time muito fraco, vale repetir ---, o que vimos foi o oposto. O Equador defende-se com onze, e contra o Brasil atacou bastante porque o sistema-escadinha da Seleção deixa sempre um vale aberto para fácil avanço do adversário. Como a Seleção só finaliza com seu grotão de atacantes e, quando muito, com os alas, fica muito fácil pará-la com onze defendendo.
Só o mágico futebol de nossos jogadores é capaz de furar esse bloqueio, como vimos acontecer contra o Equador. Mas, é bom não esquecer, foi contra o Equador. Quero ver furar esse bloqueio na Copa de 2014 contra uma Espanha, uma Alemanha, uma Holanda. Se não der um fim a esse sistema-escadinha burro de Mano (esse 4-3-3 escalafobético que já caiu em desuso há décadas) --- os europeus dão risada dessa nossa maneira de jogar ---, com certeza teremos outro Maracanaço em 2014. Voltamos a jogar aquele futebol alegre que nunca desconcerta dos anos 50, para alegria dos adversários.
E não é isso o que mais preocupa no momento. É a incapacidade de enxergar o problema, da parte de todos os agentes do futebol brasileiro, do dirigente ao jogador, passando por nossa pobre mídia esportiva, de Daniel Piza a PVC. Aí reside a verdadeira tragédia. Abraço a todos.
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