sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Olha que texto lindo!



QUANDO EU SOLTAR A MINHA VOZ…
… por favor entenda, que palavra por palavra, eis aqui uma pessoa se entregando”.
Pincei o trecho da canção “Sangrando”, de Gonzaguinha, para ilustrar o misto de ansiedade, espera, angústia e euforia por durante onze meses. Calei-me como réu confesso de um crime que não cometi ao assistir a “batalha de 06 de dezembro”. Amargaremo-me ao ver meu Coritiba açoitado na justiça como se estivesse num tribunal da inquisição. Escutei as ironias e impropérios dos rivais e dos oportunistas detratores que tentaram minguar a história Coxa-Branca. Confundiram fatos com sensacionalismo, tomaram o todo pela parte ao generalizar a torcida coritibana como irresponsável, baderneira e sem espírito esportivo. Fiz um pacto de silêncio e que a minha voz seria ecoada tão logo, um dia, quiçá houvesse a bonança.
Continuo a usar a canção: “Coração na boca, peito aberto, vou sangrando. São as lutas dessa nossa vida que estou cantando”. Reinava a dúvida sobre o ano seguinte à incógnita de nossa vida. Um time sem sede, longe de sua torcida, manchado publicamente, precisando ressurgir das cinzas. O recomeço foi lento, tal qual a restauração de uma fina peça milenar de porcelana que precisa ser cuidadosamente remontada pela junção de seus cacos.
Em menos de cinco meses, a primeira conquista: o título do Campeonato Paranaense. Estávamos cientes de que o torneio doméstico não era parâmetro, mas servia de estímulo para acreditar nas nossas forças. Os rivais se empequeneceram, emudeceram, perceberam que o gigante não estava adormecido (e muito menos enfermo). E a canção continua: “Quando eu abrir minha garganta/ Essa força tanta/Tudo que você ouvir/Esteja certa/ Que estarei vivendo/ Veja o brilho dos meus olhos/E o tremor nas minhas mãos/E o meu corpo tão suado/Transbordando toda a raça e emoção”.
A saga, o maior desafio, viria no “retorno” à Série B. Campanha impecável até a volta ao lar, líder mesmo atuando longe de seus domínios. Revigorado, o time da alma guerreira fez jus ao título dado pela “torcida que nunca abandona”. Eu mesmo, que confesso não ter sido presente pois somente assisti a um jogo no estádio, não desamparei o Coritiba nas noites de terças e sextas-feiras. Admito ter ficado raivoso quando em alguns tropeços, mas paciente ao observar que o caminho era longo, desafiador e de muitos obstáculos pois o líder era assediado pelos demais concorrentes.
Enfim, o jogo que selaria a volta por cima (e para cima). Noite de terça-feira chuvosa em Curitiba e o Coritiba na mesma cidade maravilhosa em que levantou seu maior título, há 25 anos. O palco era outro, mas o clima de ansiedade idêntico. Uma pausa para frisar que o time da alma guerreira é autêntico até nos locais em que levantou seus principais títulos: além do Rio de Janeiro, sagrou-se campeão em Salvador (Torneio do Povo) e em Recife (Série B 2007). Nada melhor que fazer festa em pontos tradicionalmente turísticos. Não nos invejem, conquistem!
Retornando ao “primeiro dia de nossa retomada”, fiquei enclausurado no meu quarto, tomado pela escuridão e dando permissão apenas para as ondas médias de meu radinho de pilha. Postura de torcedor tradicional. Deixei que meus ouvidos retransmitissem a todo meu íntimo a emoção, a tensão e a possibilidade de euforia. Em 20 minutos, a vantagem era considerável. Isso sem contar que dos dois concorrentes diretos que poderiam estragar nossa antecipada festa, um deles derrapara minutos antes, enquanto outro teimava em querer incomodar na matemática. Mas e qual é a regra para uma conquista coritibana? A luta, a persistência, a dificuldade.
E o roteiro não poderia ser outro: o adversário em campo reagiu e roubava nossa possibilidade de respirarmos aliviados nos últimos minutos de partida. Mas enquanto há vida, há esperança. E até os últimos suspiros a alma guerreira se mostrou forte, iluminada, presente. O gol de Marcos Aurélio, aos 44 minutos, foi irônico, debochado, arrastado, a bola foi em câmera lenta até beijar as redes. Música, por favor: “E se eu chorar/ E o sal molhar o meu sorriso/ Não se espante, cante/ Que o teu canto é minha força pra cantar/ Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda/É apenas o meu jeito de dizer o que é amar”.
Por fim, representei a última parte da música ao liberar de dentro de mim o choro e o grito presos por quase um ano. Estiquei os pulmões, fiz meu coração acelerar, o sangue ferver pelas veias, senti que estava eletrizado numa condição atípica à natureza humana.
Coxa, estou “Sangrando” por ti!
***
O autor desse texto é o jornalista Luciano Demetrius Leite, que tem a felicidade divina de torcer pelo Coritiba.
Ele escreveu esse texto e me enviou. Senti como quase que em tom de desabafo, pela infernal passagem pela Série B, que o coração, agora leve, bateu mais forte pelo Coritiba. E essa sensação me lembrou muito da foto acima, de autoria do amigo Marcello Schiavon. Foi num AtleTiba, 4×2, na Baixada. São momentos que marcam. Foi como se “os sinos dobrassem”. É, o futebol tem dessas emoções ainda. Por isso eu resolvi compartilhar esse material com mais gente.
É, amigo, enfim, o pesadelo acabou! Voltamos! E agora, queremos ser mais fortes!




3
Olá Luiz
Lá vem você de novo nos brindando com outro belo texto. Desta feita uma obra prima do colega Luciano Demetrius Leite.
Este nobre escriba teve a felicidade de descrever todos os meus sentimentos num entrelaçar perfeito com uma das composições mais geniais do excepcional Gonzaguinha.
Parabenizo o autor e a você, o melhor divulgador das cores do Coritiba na web. Aos dois e á toda nação Coxa-Branca dedico uma outra música do saudoso Luiz Gonzaga Jr.: Mesa de Bar foi escrita para Alcione e a interpretação conjunta com Ed Motta deixa a composição ainda mais brasileira.
Espero, como diz a canção, um dia encontrá-los numa mesa de bar (Se o Rio é o mar, Curitiba é o Bar diria Leminski)… para celebrarmos esse momento, esse belo texto, essa bela amizade e a felicidade do nosso amado Coritiba.
Eis o link da música. Mesmo que virtualmente façamos um brinde aos novos ares que respiramos a partir de agora.
gde abs
Marcos Freitas
musicaefefc.blogspot.com
Mesa de bar
Luiz Gonzaga Jr
É lugar para tudo que é papo da vida rolar
Do futebol, até a danada da tal da inflação
É coração, fantasia e realidade
É um ideal paraíso adonde nós fica a vontade
Mesa de bar
É cerveja suada matando a pau o calor
Vamos cantar aquela cantiga que fala da luta e do amor
Mas antes brindar em homenagem
Aqueles
que já não vem mais
Saúde pra gente, moçada, que a gente merece demais
Em torno de um copo a gente inventa um mundo melhor
A dona birita levanta a moral de quem está na pior
A água da mágoa se enxuga no pano daquela toalha
Pra acabar com a tristeza
Esse remédio não falha
Na mesa de um bar todo mundo é sempre o maior
Todo mundo derrama as tintas da sua alegria
Copos batendo na festa da rapazeada
Se bem que a gente não esquece que a barriga anda meio vazia
É que mesa de bar é onde se toma um porre de liberdade
Companheiros em pleno exercício de democracia
Mesa de bar é onde se toma um porre de liberdade
E companheiros em pleno exercício de democracia
***
Saudades, amigo! Como vão as coisas em SP, Marquinho?

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