Enfim consegui achar o belo texto de André Kfouri, que foi publicado no diário "Lance!", de sábado e mostra muito bem o porquê do Estudiantes ser tetra da Libertadores.
PERDENDO E APRENDENDO
"Eu pedi aos jogadores que olhassem para o céu. Eles veriam uma enorme camisa do Estudiantes, encontrariam os ex-campeões, estariam na sala de suas casas. Pedi que saltassem e se agarrassem nas estrelas, que levassem essa camisa. E disse que essa camisa iria a todas as partes do mundo. Era a camisa deles."
Essas foram as últimas palavras do técnico Alejandro Sabella, aos jogadores do Estudiantes de La Plata, antes da decisão contra o Cruzeiro.
No vestiário, os argentinos podiam ouvir o Mineirão lotado.
Sabella os preparou para que não sucumbissem ao ambiente hostil.
Tratou de criar uma conexão entre seus comandados e o sentimento que não os deixaria sozinhos, num gramado brasileiro: os 35 anos de saudade do último título de Libertadores conquistado pelo clube.
A história do futebol é quase sempre contada pelos vencedores.
É óbvio que Adílson Batista também falou com seus jogadores, também lhes mostrou um vídeo motivacional.
Esta coluna não é uma supervalorização do discurso de um treinador, não credita o título do Estudiantes às subjetividades propostas por Sabella.
É apenas uma constatação das diferenças entre as duas principais escolas de futebol do mundo.
Diferenças que são, acima de tudo, culturais.
No momento em que um clube brasileiro perde, mais uma vez, e em casa, a decisão de Libertadores para um adversário argentino, a análise precisa sair do campo.
O que decidiu o jogo?
A maneira como o Estudiantes absorveu o gol do Cruzeiro, e a maneira com o Cruzeiro não absorveu o empate.
Do 1 x 0 ao 1 x 1, seis minutos.
Do 1 x 1 ao 1 x 2, quinze, tempo em que o goleiro Andújar não sofreu ameaça.
Atrás no placar, e com o Mineirão em festa, o time argentino continuou jogando.
Após o empate, que apenas prolongaria a final, o time brasileiro parou.
Já vimos filmes parecidos, com outras cores e em outros cinemas nacionais.
Os (bons) times argentinos raramente abandonam seu plano de jogo.
Levam gols e parecem nem ligar.
Fazem gols e tomam conta.
E quanto mais festejam títulos por aqui, menos se preocupam em decidir aqui.
São times mais obedientes taticamente, mais conscientes do que podem e não podem fazer, mentalmente mais fortes.
O que não tem só a ver com futebol.
Tem a ver com a formação das pessoas.
O jogador argentino "standard", nota 6, é melhor do que o brasileiro.
E é mais profissional do que o brasileiro.
Como nas competições entre clubes há mais jogadores comuns dos dois lados, a superioridade fica exposta, principalmente na hora mais importante.
Superioridade que aumenta quando há um "top-de-linha" envolvido, como Juan Sebastián Verón.
Quando a parada é entre os "tops" de cada país, seleção contra seleção, a vantagem é nossa, porque os temos em maior quantidade.
Imagine o discurso de Alejandro Sabella, num vestiário brasileiro.
Cartolas e boleiros recomendariam sua internação.
E alguém ainda perguntaria quem eram os "ex-campeões", ou o que aconteceu há 35 anos.
A evolução do nosso futebol acompanhará nossa evolução como sociedade.
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